CIDADE DE SAMARIA
No grego, Samáreia. No
hebraico, o nome significa «vigia». Era a capital do reino do norte,
Israel, após a divisão em Israel e Judá.
1. Localização. A cidade de
Samaria estava localizada em excelente local, no alto de uma colina, cerca de
sessenta e cinco quilômetros ao norte de Jerusalém, e cerca de quarenta
quilômetros das margens do mar Mediterrâneo. Durante a primavera, quando surgem
as flores, o local fica realmente lindo. O rei de Israel podia ver ao longe o
mar Mediterrâneo, contemplando a paisagem, das janelas de seu palácio, olhando
na direção oeste. A vista dava para o fértil «vale da cevada», daí para a
planície de Sarom e, então, para o mar. Samaria ficava localizada na
principal estrada da Palestina, que acompanhava o espinhaço montanhoso
norte-sul, quase diretamente a oeste da elevação montanhosa onde ficava a
capital anterior, Tirza. Ficava cerca de dez quilômetros e meio a noroeste
de Siquém, a primeira capital do reino.
A cidade ficava sobre um platô oval,
com cerca de 90 m de altura, isolada das colinas ao redor, excetuando pelo lado
leste, onde havia uma ligação com o espinhaço norte-sul. Embora mais baixa que
algumas das colinas em derredor, esse platô ficava fora de alcance das
catapultas que ali fossem postas. Por essa razão, Samaria resistiu a diversos
assédios dos sírios, tendo mesmo resistido a um cerco assírio durante três
anos, antes de cair (II Rs 17:5). Isso reveste-se de interesse
especial em face do fato de que a fonte da cidade ficava a um quilômetro e meio
de distância, e os habitantes da cidade tiveram de depender de cisternas,
durante o assédio.
Quando Herodes, o Grande, reconstruiu
Samaria, deu-lhe o novo nome de Sebaste, em honra a seu imperador,
Augusto, pois Sebaste é o nome grego correspondente a Augusto. A
atual vila árabe, na extremidade leste do local, até hoje exibe o nome herodiano,Segastiyeh. A
população da cidade, nos dias do Antigo Testamento, pode ser apenas
conjecturada; mas sabe-se que Sargão deportou nada menos de 27.290 de
seus habitantes. A população máxima, nos dias do Novo Testamento, provavelmente
não ultrapassava quarenta mil pessoas. A área do platô, naturalmente,
determinava as dimensões da cidade, ou seja, cerca de vinte acres, ou 81.000
m(2).
2. História Israelita. A
cidade de Samaria aparece por mais de cem vezes nas páginas do Antigo
Testamento, embora só tenha sido construída cerca de cinquenta anos após a
morte de Salomão. Foi fundada em 875 A.C., por Onri. «De Semer comprou
ele o monte de Samaria, por dois talentos de prata, e o fortificou; à cidade
que edificou sobre o monte chamou-lhe Samaria, nome oriundo de Semer, dono
do monte» (I Rs 16:24). Mas Onri faleceu antes de completar
a construção da cidade, que foi terminada por seu filho, Acabe. A nova capital
era um melhoramento em relação à capital anterior, Tirza, em todos os
aspectos.
A arqueologia descobriu que o alto da
colina vinha sendo ocupado desde a Primeira Idade do Bronze; mas, ao que
parece, o terreno voltou a ser área cultivada, até que Onri o
comprou. Os arqueólogos viram que a porção construída por Onri e seu
filho fora bem projetada e muito bem construída, provavelmente por construtores
fenícios, pois obras iguais têm sido descobertas em Tiro. Israel e a Fenícia
eram aliados. A esposa de Acabe era Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios (I Rs 16:31).
O palácio real, provavelmente, seguia o mesmo plano de um edifício de dois
pisos, de onde Acazias, filho de Acabe, em uma queda de uma janela do
segundo piso, foi fatalmente ferido (II Rs 1:2-17). A construção foi
feita em redor de pátios abertos. Em um deles foi encontrado um reservatório
raso de água, com cerca de 10,2 m por 5,2 m. Talvez nesse lugar tenha
sido lavado o sangue do carro de guerra de Acabe (I Rs 22:38). A área total do
palácio parece ter sido de cerca de 178 m por 89 m = 6.942 m(2).
Esse palácio foi chamado de casa
de marfim (I Rs 22:39; Am 3:15). Há várias interpretações
acerca do sentido dessas palavras; a mais provável é aquela que diz que o nome
se devia à mobília marchetada de marfim. Mais de quinhentas placas ou
fragmentos de marfim têm sido encontrados nas imediações. Um dos pontos de
interesse é que entre os objetos de adorno foram encontradas placas
representando divindades egípcias. Também foram encontrados muitos selos
de argila, com que os rolos de papiro eram fechados e oficializados,
tornando-se documentos do governo. Esses selos foram encontrados juntos, em um
só lugar, provavelmente onde eram manuseados os documentos oficiais.
A área do palácio ficava na extremidade
ocidental e mais alta da colina. O povo comum vivia na cidade baixa, isto é, no
extremo oriental da cidade.
A cidade era fortificada com uma
muralha externa e outra interna. A muralha externa, do tipo casamata,
tinha torres e bastiões, com cerca de 6 m de espessura. A muralha interior, com cerca
de 1,5 m de espessura, era feita de pedras sólidas, ao passo que a
exterior tinha paredes externa e interna, recheadas de terra. A porta principal
da cidade ficava na extremidade oriental da cidade, onde a colina estava ligada
à massa rochosa. Essa pode ter sido a porta onde Acabe e Josafá se
sentaram em seus tronos e ouviram os profetas predizerem o resultado
da batalha contra os sírios, em Ramote-Gileade (II Cr 18:9). Talvez também
tenha sido a porta onde os leprosos dialogavam sobre o tipo de morte
preferível, quando a cidade era assediada por Bem-Hadade, e onde também o
capitão do rei foi pisoteado e morto pela turba que foi saquear os alimentos
deixados pelas tropas sírias, que haviam levantado o cerco (II Rs 7:1-20).
O santuário de Baal, que Acabe erigiu
em Samaria (I Rs 16:32,33), ainda não foi identificado pela
arqueologia, mas menos de um terço do palácio real tem sido escavado, e apenas
um pequeno segmento da cidade baixa tem sido explorado pelos arqueólogos. As múltiplas
reedificações de Samaria dificultam as explorações arqueológicas, quanto aos
principais edifícios encontrados, pertencentes à época posterior a Onri e
Acabe.
Samaria foi cercada por Ben-Hadade, da
Síria; mas Israel fez um contra-ataque maciço e os sírios foram derrotados.
Ben-Hadadeestava embriagado por ocasião da batalha (I Rs 20:1-22).
Acabe derrotou Ben-Hadade pela segunda vez, na primavera seguinte, e o
rei sírio se entregou. Posteriormente, os sírios atacaram Israel por uma
terceira vez, e Acabe foi mortalmente ferido em Ramote-Gileade, e morreu
antes de conseguir voltar a Samaria. Seu carro ensanguentado foi lavado em um
dos açudes de Samaria (I Rs 22:1-38).
Acazias, filho de Acabe reinou somente
por dois anos. Morreu de uma queda acidental de uma janela de segundo andar do
palácio real de Samaria (II Rs 1:2-17). Jeorão, seu irmão, foi
seu sucessor, e reinou por oito anos. Foi ferido em batalha, em Ramote-Gileade
(II Rs8:28), e conseguiu escapar com vida, somente para ser assassinado
pouco depois por Jeú, um dos líderes militares daquela batalha (II Rs
9:24).
Quando, em seguida, os oficiais da
corte decapitaram todos os parentes masculinos de Acabe, por ordem de Jeú (II Rs 10:1-11),
chegou ao fim a dinastia de Onri, famosa até mesmo nos anais assírios. Cerca
de 842 A.C.
A dinastia de Jeú prolongou-se
por mais quatro gerações, envolvendo nomes como Jeoacaz, Jeoás, Jeroboão (o
mais importante dos reis de Samaria, que governou por quarenta e um anos; I Rs 14:23),
e Zacarias, até que este foi assassinado por Salum (II Rs 15:13). Isso
concordou com certa predição da parte do Senhor a Jeú: «Teus filhos, até à
quarta geração, se assentarão sobre o trono de Israel» (II Rs 15:12). Cerca
de 762 A.C.
Salum reinou somente por um mês (II Rs 15:13). Então,
foi a vez de Menaem reinar em Samaria. Ele, seu filho, Pecaías,
e seu neto, Peca, representaram uma dinastia que perdurou por trinta e dois
anos, até cerca de 730 A.C.
Peca foi assassinado por Oséias, que
reinou por sete anos, até que Salmaneser, rei da Assíria, forçou-o a pagar
tributo. O irmão deSalmaneser, Sargão II, levou avante o cerco de
Samaria, iniciado por seu antecessor, e pôs fim ao reino de Israel,
transportando 27.290 dos habitantes de Samaria para a Mesopotâmia, em 722 ou 721
A.C. As escavações demonstram que pelo menos uma parte da cidade foi
incendiada pelos assírios, na ocasião. Mas isso foi o fim de Samaria. (Ver II Rs 18:9-12).
Sargão II deixou registrado que
reconstruiu Samaria, tornando-a maior do que fora no tempo dos monarcas
israelitas. Samaria (ou a região ou a capital, não se sabe precisar), foi
repovoada com refugiados vindos de outras regiões conquistadas pelos assírios
(II Rs17:24). Mais deportados vieram no tempo dos reinados de Esar-Hadom (Ed
4:2) e de Assurbanipal (Ed 4:9,10). A despeito disso, leais adoradores de
Yahweh continuaram subindo de Samaria a Jerusalém, até mesmo após a conquista
de Jerusalém e do seu templo, por Nabucodonosor, rei da Babilônia, em 598
A.C. (II Rs 24—25).
Quando os babilônios se tornaram o
poder dominante, após a hegemonia assíria, Samaria continuou sendo a capital da
província de Samaria, que então passou a chamar-se Samerina. Na época da
hegemonia persa, Samaria continuou sendo a capital da província deSamerina. Nos
livros históricos do Antigo Testamento, a última menção a Samaria aparece em Ne 4:2,
quando o horonita Sambalá, falou na presença de seus irmãos e do
exército de Samaria, dizendo: «Que fazem estes fracos judeus?» (cerca de 445 A.C.,
nos dias deArtaxerxes Longimanus, rei da Pérsia). Muitos pensam que o
adjetivo pátrio «horonita», aponta para Horonaim, em Moabe.
3. Período Intertestamentário. Na
época de Alexandre, o Grande, a cidade de Samaria assumiu um novo caráter,
tornando-se a cidade grega mais importante da Palestina central. Mas sua
importância religiosa diminuiu, porquanto a construção de um templo em Siquém,
no vizinho monte Gerizim, deu um novo impulso à religião samaritana. (Ver Samaritanos na
ajuda 3 em ebdareiabranca).Todavia, Samaria foi reforçada com
muralhas e torres muito bem construídas. Mas as tropas de João Hircano capturaram
a cidade, em107 A.C., tendo conseguido fazer uma brecha nas suas muralhas, com
cerca de 4 m de espessura. Os objetos encontrados nas casas pertencentes a esse
período mostram que Samaria era uma típica cidade helenista, com boa
prosperidade econômica e um nível cultural tão elevado como o de qualquer outra
cidade judaica ou romana. A despeito de tropas auxiliares, enviadas pelos
Selêucidas ePtolomeus, os judeus derrotaram os samaritanos. A destruição de
Samaria foi tão completa que a cidade simplesmente desapareceu, no dizer de
Josefo. Porém, os arqueólogos têm notado que essa declaração é exagerada.
Aquilo que restou da destruição continuou sendo ocupado, até que Pompeu
conquistou a Palestina, adicionando Samaria ao império romano, em 63 A.C. Posteriormente,
Samaria foi anexada à província da Síria.
Foi o pro cônsul romano Gabinius (57-55
A.C.) quem ordenou a restauração de Samaria. As brechas nas muralhas foram
reparadas, e novas ruas, que se cortavam em ângulos retos, foram traçadas. No
entanto, de acorda com os antigos padrões, essas ruas eram muito
estreitas, entre 2,5 m e 3 m de largura apenas. Herodes, o Grande, o mesmo que
adornou o templo de Jerusalém, foi o grande construtor em Samaria, tendo-a
rebatizado com o nome de Sebaste. Tal como Alexandre, o Grande, Herodes transferiu
parte de seus veteranos militares para Samaria. Josefo (Anti. xv.
8,5) informa-nos também que essas tropas compunham-se de gálatas, trácios e
germânicos. Isso posto, Samaria tornou-se uma cidade cosmopolita, com
judeus, samaritanos, gregos, macedônios e romanos, além de mercenários
estrangeiros.
Herodes, o Grande, deixou Samaria como
herança a seu filho, Arquelau. Todavia, este era um administrador tão
ineficiente que os romanos o removeram do trono. E, então, Samaria foi posta
sob a jurisdição do procurador romano sediado em Cesaréia.
4. Período Neotestamentário. A
cidade herodiana foi justamente a Samaria aludida nas páginas do Novo Testamento.
Ela não é mencionada por nome nos evangelhos. Os trechos de Lc 17:11; Jo 4:4-9 falam em Samaria, mas a alusão é à província, e não à cidade.
A primeira menção à «cidade de Samaria» fica em Atos 8:5: «Filipe, descendo à
cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo». Isso é reiterado no vs. 14 desse
mesmo capítulo, quando ali chegaram Pedro e João.
Quando os judeus se revoltaram contra
Roma, Samaria foi uma das primeiras cidades a sofrer as consequências. Os
judeus capturaram-na e saquearam-na em 66 D.C., durante os seus primeiros meses
de revolta. Mas, parece que a cidade recuperou-se, pois há uma inscrição
fragmentada de Vespasiano que dá essa impressão. Nem registros escritos e nem
dados arqueológicos lançam grande luz sobre Samaria, nos dias finais do Novo
Testamento. O período mais brilhante da cidade foi 180-230 D.C. Quase todas as
ruínas romanas na cidade, visíveis hoje em dia, pertencem a esse período.
Bibliografia J. M. Bentes,ENCICLOPEDIA DE TEOLOGIA ,2000
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