HISTORIA DA CRUZADAS
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rota das cruzadas
Cruzada Popular
Primeira Cruzada
Cruzada de 1101
Segunda Cruzada
Terceira Cruzada
Quarta Cruzada
Cruzada Albigense
Cruzada das Crianças
Quinta Cruzada
Sexta Cruzada
Sétima Cruzada
Cruzada dos Pastores
Oitava Cruzada
Nona Cruzada
Cruzadas do Norte
Personagens
Albigenses | Bizantinos | Cátaros |
Cavaleiros | Fatímidas | Hospitalários | Papas | Seljúcidas | Templários
Estados
cruzados
Chama-se Cruzada a qualquer um dos
movimentos militares de inspiração cristã que partiram da Europa Ocidental em
direção à Terra Santa (nome pelo qual os cristãos denominavam a Palestina) e à
cidade de Jerusalém com o intuito de conquistá-las, ocupá-las e mantê-las sob
domínio cristão. Estes movimentos estenderam-se entre os séculos XI e XIII,
época em que a Palestina estava sob controle dos turcos muçulmanos. No médio
oriente, as cruzadas foram chamadas de "invasões francas", já que os
povos locais viam estes movimentos armados como invasões e porque a maioria dos
cruzados vinha dos territórios do antigo Império Carolíngio e se
autodenominavam francos.
Os ricos e poderosos cavaleiros da
Ordem de São João de Jerusalém (Hospitalários) e dos Cavaleiros Templários
foram criados durante as Cruzadas. O termo é também usado, por extensão, para
descrever, de forma acrítica, qualquer guerra religiosa ou mesmo um movimento
político ou moral.
O termo cruzada não era conhecido no
tempo histórico em que ocorreu. Na época eram usadas, entre outras, as
expressões "peregrinação" e "guerra santa". O termo Cruzada
surgiu porque seus participantes se consideravam soldados de Cristo,
distinguidos pela cruz aposta a suas roupas. As Cruzadas eram também uma peregrinação,
uma forma de pagamento a alguma promessa, ou uma forma de pedir alguma graça, e
era considerada uma penitência.
Por volta do ano 1000, aumentou muito a
peregrinação de cristãos para Jerusalém, pois corria a crença de que o fim dos
tempos estava próximo e, por isso, valeria a pena qualquer sacrifício para
evitar o inferno. Incidentalmente, as Cruzadas contribuíram muito para o
comércio com o Oriente.
1
Antecedentes
2 Nove cruzadas (segundo a tradição)
2.1 Cruzada
Popular ou dos Mendigos (1096)
2.2 Primeira
Cruzada (1096-1099)
2.3 Segunda
Cruzada (1147-1149)
2.4 Terceira
Cruzada (1189-1192)
2.5 Quarta
Cruzada (1202-1204)
2.6 Cruzada
Albigense
2.7 Cruzada
das Crianças (1212)
2.8 Quinta
Cruzada (1217-1221)
2.9 Sexta
Cruzada (1228-1229)
2.10 Sétima
Cruzada (1248-1254)
2.11 Oitava
Cruzada (1270)
2.12 Nona
Cruzada (1271-1272)
3 Acontecimentos
posteriores
4 Causas
do fracasso
5 O
legado das cruzadas
6 A
jihad
7 As
cruzadas na reconquista de Portugal
Antecedentes
Depois da morte de Maomé (632), vagas
de exércitos árabes lançaram-se com novo fervor à conquista dos seus antigos
dominadores, os bizantinos e os persas sassânidas, que vinham de décadas de
guerra. Estes últimos, depois de serem esmagadoramente derrotados em algumas
batalhas, levaram 30 anos para ser destruídos, devido mais à extensão do seu
império do que à sua resistência militar: o último xá morreu em Cabul em 655.
Os bizantinos resistiram bem menos: cederam uma parte da Síria, a Palestina, o
Egito e o norte de África, mas ao fim sobreviveram e mantiveram sua capital
Constantinopla.
Em novo impulso, os exércitos
conquistadores muçulmanos lançaram-se então sobre a Índia, a península Ibérica,
o sul de Itália, a França, e as ilhas mediterrâneas. Tendo se tornado uma
civilização tolerante e brilhante sob o ponto de vista intelectual e artístico,
o império muçulmano sofreu de gigantismo e viu enfraquecer-se militar e
politicamente. Aos poucos, as zonas mais longínquas tornaram-se independentes
ou então foram recuperadas pelos seus inimigos, bizantinos, francos, reinos
neo-godos, os quais guardavam na memória a época de conquista.
No século X, essa desagregação
acentuou-se, em parte devido à influência de grupos de mercenários convertidos
ao islão que tentaram criar reinos separados. Os turcos seljúcidas (não
confundir com os turcos otomanos antepassados dos criadores do actual estado da
Turquia), procuraram impedir esse processo e conseguiram unificar uma parte do
território. Acentuaram a guerra contra os cristãos, esmagaram as forças
bizantinas em Manziquerta em 1071 conquistando, assim, o leste e o centro da
Anatólia e Jerusalém em 1078.
Depois de um período de expansão nos
séculos X e XI o Império Bizantino viu-se em sérias dificuldades: a braços com
revoltas de nómadas ao norte da fronteira, e perda dos territórios da península
Itálica, conquistados pelos normandos. Internamente, a expansão dos grandes
domínios em detrimento do pequeno campesinato resultou numa diminuição dos
recursos financeiros e humanos disponíveis ao estado. Como solução, o imperador
Aleixo I Comneno decidiu pedir auxílio militar ao Ocidente para fazer frente à
ameaça seljúcida.
O domínio dos turcos seljúcidas sobre a
Palestina foi percebido pelos cristãos do Ocidente como uma ameaça e uma forma
de repressão sobre os peregrinos e os cristãos do Oriente. Em 27 de janeiro de
1095, no concílio de Clermont, o papa Urbano II exortou os nobres franceses a
libertar a Terra Santa e a colocar Jerusalém de novo sob soberania cristã ,
apresentando a essa expedição militar como uma forma de penitência. A multidão
presente aceitou entusiasticamente o desafio e logo partiu em direcção ao
Oriente, sobrepondo uma cruz vermelha sobre suas roupas (daí terem recebido o
nome de "cruzados"). Assim começavam as cruzadas.
Nove cruzadas (segundo a tradição)
Rota das principais Cruzadas.
Tradicionalmente se fala em nove
Cruzadas, mas, na realidade, elas constituíram um movimento quase permanente.
Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096)
A Cruzada Popular ou dos Mendigos
(1096) foi um acontecimento extra-oficial que consistiu em um movimento popular
que bem caracteriza o misticismo da época e começou antes da Primeira Cruzada
oficial. O monge Pedro, o Eremita, graças a suas pregações comoventes,
conseguiu reunir uma multidão. Entre os guerreiros, havia uma multidão de
mulheres, velhos e crianças.
Na busca de recursos financeiros para o
longa viagem até a Palestina, estes cruzados buscaram infiéis ricos mais
próximos de suas casas. Assim, começaram a atacar judeus europeus[3] . As
primeiras vítimas foram os judeus da Renânia[3] . Inspirado por Pedro o
Eremita, o conde Emich de Leisengen marcou a própria testa com queimadura em
forma de cruz e liderou um grupo de peregrinos para atacar os judeus da cidade
de Spier. Apesar da oposição do bispo católico da cidade, os peregrinos mataram
muitos judeus que se recusaram a abraçar a fé cristã[3] . O mesmo bando seguiu
depois até Worms, atacou a Judengasse e matou mais de mil judeus[3] . O grupo
prosseguiu até Mogúncia, onde mais 990 judeus foram mortos[3] .
Ataques a judeus ocorreram também na
Colônia, Trier, Metz, Praga e Ratisbona e o sentimento antijudeu espalhou-se
pela França e Inglaterra. .
Ante a impaciência da multidão, em
Oedenburg (atual Sopron), Pedro despachou seu comandante militar Walter o
Impiedoso com cinco mil cruzados. Ao chegar à cidade bizantina de Belgrado, os
cruzados começaram a pilhar a área rural e 150 deles morreram em confronto com
a população local
Auxiliado por um cavaleiro, Guautério
Sem-Haveres, os peregrinos atravessaram a Alemanha, Hungria e Bulgária,
causando desordens e desacatos, sendo em parte aniquilados pelos búlgaros.
Em 1 de agosto de 1096, chegaram em
péssimas condições a Constantinopla[3] . Mal equipada e mal alimentada, essa
cruzada massacrou, pilhou e destruiu. Ainda assim, o imperador bizantino Aleixo
I Comneno recebeu os seguidores do eremita em Constantinopla. Prudentemente,
Aleixo aconselhou o grupo a aguardar a chegada de tropas mais bem equipadas.
Mas a turba começou a saquear a cidade.
O imperador bizantino, desejando
afastar esse "bando turbulento" de sua capital, obrigou-os a se
alojar fora de Constantinopla, perto da fronteira muçulmana, e procurou
incentivá-los a atacar os infiéis. Foi um desastre, pois a Cruzada dos Mendigos
chegou muito enfraquecida à Ásia Menor, onde foi arrasada pelos turcos. Somente
um reduzido grupo de integrantes conseguiu juntar-se à cruzada dos cavaleiros.
Pedro o Eremita mostra o caminho de
Jerusalém aos cruzados (iluminura francesa, c.1270)
Durante um mês, mais ou menos, tudo o
que os cavaleiros turcos fizeram foi observar a movimentação dos invasores, que
se ocupavam apenas de saquear as regiões próximas do acampamento onde foram
alojados. Até que, em agosto de 1096, o bando inquieto cansou-se de esperar e
partiu para a ofensiva.
Quando parte dos europeus resolveu
partir em direção às muralhas de Niceia (atual İznik), cidade dominada pelos
muçulmanos, uma primeira patrulha de soldados do sultão turco Kilij Arslan foi
enviada, sem sucesso, para barrá-los. Animado pela primeira vitória, o exército
do Eremita continuou o ataque a Niceia, tomou uma fortaleza da região e
comemorou se embriagando, sem saber que estava caindo numa emboscada. O sultão
mandou seus cavaleiros cercarem a fortaleza e cortarem os canais que levavam
água aos invasores. Foi só esperar que a sede se encarregasse de aniquilá-los e
derrotá-los, o que levou cerca de uma semana.
Quanto ao restante dos cruzados
maltrapilhos, foi ainda mais fácil exterminá-los. Tão logo os francos tentaram uma
ofensiva, marchando lentamente e levantando uma nuvem de poeira, foram
recebidos por um ataque de flechas. A maioria morreu ali mesmo, já que não
dispunha de nenhuma proteção. Os que sobreviveram fugiram em pânico.
O sultão, que havia ouvido histórias temíveis
sobre os francos, respirou aliviado. Mal imaginava ele que aquela era apenas a
primeira invasão e que cavaleiros bem mais preparados ainda estavam por vir.
Primeira Cruzada (1096-1099)
Rota dos líderes da primeira cruzada,
por William Shepherd, Atlas Histórico, 1911
Foi chamada também de Cruzada dos
Nobres ou dos Cavaleiros. Ao pregar e prometer a salvação a todos os que
morressem em combate contra os pagãos (neste caso, se referia aos muçulmanos)
em 1095, o papa Urbano II estava a criar um novo ciclo. É certo que a ideia não
era totalmente nova: parece que já no século IX se declarara que os guerreiros
mortos em combate contra os muçulmanos na Sicília mereciam a salvação.
As várias versões que nos restam do seu
apelo mostram que Urbano relatou também os infortúnios dos cristãos do oriente,
e sublinhou que se até então os cavaleiros do ocidente habitualmente combatiam
entre si perturbando a paz, poderiam agora lutar contra os verdadeiros inimigos
da fé, colocando-se ao serviço de uma boa causa. O apelo foi feito a todos sem
distinção, pobres ou ricos. E foi, de facto, o que sucedeu. Mas os ricos e
pobres rapidamente formaram cruzadas separadas.
Por volta de 1097, um exército de 30
mil homens, dentre eles muitos peregrinos, cruzou a Ásia Menor, partindo de
Constantinopla. A cruzada dos cavaleiros, possuindo recursos, embora
progredindo devagar, fizera um acordo com o imperador bizantino de lhe devolver
os territórios conquistados aos turcos. Liderada por grandes senhores, levava
quer proprietários, quer filhos segundos da nobreza. Esse acordo seria
desrespeitado, à medida que o mal-entendido entre as duas partes cresceria.
A tomada de Jerusalém durante a
Primeira Cruzada em 1099, de um manuscrito medieval
Os bizantinos pretendiam um grupo de
mercenários solidamente enquadrados ao qual se pagasse o soldo e que obedecesse
às ordens - não aquelas turbas indisciplinadas; os cruzados não estavam
dispostos, depois de tantos sacrifícios a entregar o que obtinham. Apesar da
animosidade entre os líderes e das promessas quebradas entre os cruzados e os
bizantinos que os ajudavam, a Cruzada prosseguiu. Os turcos estavam
simplesmente desorganizados. A cavalaria pesada e a infantaria francas não
tinham experiência em lutar contra a cavalaria leve e arqueiros turcos, e vice-versa.
A resistência e a força dos cavaleiros venceram a campanha em uma série de
vitórias, a maioria muito difíceis.
Em 19 de junho de 1097, os cruzados
cercaram e tomaram Niceia (atual İznik), devolvendo-a aos bizantinos, e logo
tomaram o rumo de Antioquia. Em julho, foram atacados pelos turcos em Dorileia,
mas conseguiram vencê-los e, após penosa marcha, chegaram aos arredores de
Antioquia em 20 de outubro. A cidade de Antioquia somente cairia, após longo
cerco, a 3 de junho de 1098, com a ajuda de um sentinela armênio que facilitou
a entrada dos cruzados nas muralhas da cidade. Seguiu-se um saque terrível da
população muçulmana da cidade, que ficou na posse de Boemundo de Taranto, o
chefe dos normandos.
Godofredo de Bulhão, após longo cerco,
conquistou Jerusalém atacando uma guarnição fraca em 1099. A repressão foi
violenta. Segundo o arcebispo Guilherme de Tiro, a cidade oferecia tal
espetáculo, tal carnificina de inimigos, tal derramamento de sangue que os
próprios vencedores ficaram impressionados de horror e descontentamento.
Godofredo de Bulhão ficou só com o título de protector e, à sua morte,
Balduíno, seu irmão, proclamou-se rei. Os cristãos humilharam-se após as duas
conquistas massacrando muito dos residentes, indiferentemente da idade, fé ou
sexo. Após a vitória, era preciso organizar a conquista. Surgiram quatro
estados cruzados, conhecidos coletivamente como Outremer
("Ultramar"), do norte para o sul: o Condado de Edessa, o Principado
de Antioquia, o Condado de Trípoli, e o Reino de Jerusalém.
O sucesso da primeira cruzada pelas
indisciplinadas tropas foi até certo ponto uma surpresa e ocorreu porque os
cruzados chegaram num momento de desordem naquela periferia do mundo islâmico.
Uma vez conquistado o território ao inimigo, os cruzados, cujos
desentendimentos com os bizantinos começaram ainda durante a campanha, não mais
quiseram devolver as terras aos seus irmãos de fé cristã do Império Bizantino.
A Máquina de Guerra dos Cruzados,
Gustave Doré (1832-1883)
Muitos dos combatentes retiraram-se uma
vez conquistada Jerusalém (incluindo os grandes senhores), mas um núcleo ficou
(cálculos chegam a falar de algumas centenas de cavaleiros e um milhar de
homens a pé). As cidades principais (como Antioquia, Edessa) tornarem-se
capitais de principados e reinos (embora Jerusalém fosse de certo modo o centro
político e religioso), com outras marcas a protegê-los.
O sistema feudal foi transplantado para
oriente com algumas alterações: muitas vezes, em vez de receber feudos, os
cavaleiros eram pagos com direitos ou rendas (modalidade que existia também na
Europa). As cidades mercantis italianas tornaram-se fundamentais para a
sobrevivência desses estados: permitiram a chegada de reforços e interceptar os
movimentos das esquadras muçulmanas, tornando o Mediterrâneo novamente um mar
navegável pelos ocidentais. Mas rapidamente os muçulmanos iriam reagir.
De qualquer modo, nos anos seguintes,
com a euforia da vitória, mais voluntários seguiram para o Oriente. Os
contingentes seguiam por nacionalidades, continuando pouco organizados. As
motivações eram variáveis: se alguns pretendiam obter novos feudos, ou
redimir-se das suas faltas, havia também aqueles que "apenas"
pretendiam ganhar batalhas, cobrir-se de glória, bênçãos espirituais, e voltar
para a sua terra.
Os governantes cruzados encontravam-se
em grande desvantagem numérica em relação às populações muçulmanas que eles
tentavam controlar. Assim, construíram castelos e contrataram tropas
mercenárias para mantê-los sob controle. A cultura e a religião dos francos era
muito estranha para cativar os residentes da região. Dos seguros castelos, os
cruzados interceptavam cavaleiros árabes.
Por aproximadamente um século, os dois
lados mantiveram um clássico conflito de guerrilha. Os cavaleiros francos eram
muito fortes, mas lentos. Os árabes não aguentavam um ataque da cavalaria
pesada, mas podiam cavalgar em círculo em volta dela, na esperança de
incapacitar as unidades dos francos e fazer emboscadas no deserto. Os reinos
cruzados localizavam-se, em sua maioria, no litoral, pelo qual eles podiam
receber suprimentos e reforços, mas as constantes incursões e o infeliz
populacho mostravam que eles não eram um sucesso econômico.
Cruzados (Larousse, 1922)
Por volta do ano 1100, uma nova
expedição partiu. Chegados a Constantinopla, levantaram-se discussões com os
bizantinos que estavam fartos de ter aqueles vizinhos incómodos que pilhavam a
terra, portavam-se de uma forma muito mais brutal em guerra, e ficavam com o
que conquistavam (para além das diferenças culturais e religiosas).
Entretanto, os turcos estavam a
unificar-se para tentar fazer face a estas ameaça. Evitando combates directos
até ao último momento contra a cavalaria pesada cristã, usaram tácticas de
emboscadas. Em Mersivan, esmagaram um dos exércitos cristãos (o dos lombardos e
francos) que fora abandonado pelos seus líderes e cavaleiros (que fugiram).
Estes foram severamente criticados pela fuga, assim como Aleixo, imperador
bizantino, por não ter dado apoio.
Outro grupo, o exército de Nivernais,
também foi destruído de forma similar (com fuga de líderes incluída). A
expedição da Aquitânia portou-se melhor: ao menos os cavaleiros ficaram a
combater e morrer juntamente com o povo. Alguns poucos conseguiram fugiram para
Constantinopla. Três exércitos aniquilados em dois meses, enquanto que o
pequeno exército de Jerusalém (com o membros da Primeira Cruzada) derrotava um
exército egípcio.
Por alguns anos, não foram pregadas
mais cruzadas, e os territórios cristãos no oriente tiveram de se aguentar por
conta própria. Assumiram como padroeiro São Jorge da Capadócia, exemplo de
cavaleiro cristão, e seu brasão de armas, a cruz vermelha num escudo branco.
Entretanto ordens de monges cavaleiros
foram formadas para lutar pelas terras sagradas e cuidar dos peregrinos. Os
cavaleiros templários e hospitalários eram, em sua maioria, francos ou seus
vassalos. Os cavaleiros teutônicos (Teutonicorum) eram germânicos. Esses eram
os mais organizados, bravios e determinados do que os cruzados, mas nunca eram
suficientes para fazer a região ficar segura. Os reinos cruzados sobreviveram
por um tempo, em parte porque aprenderam a negociar, conciliar e jogar os
diferentes grupos árabes uns contra os outros.
O condado de Edessa caiu em 1144, sob
Zangi, governante de Alepo e Mosul. Caíram mais tarde Antioquia em 1268,
Trípoli em 1289 e o último posto dos Cruzados, Acre, durou até 1291.
Segunda Cruzada (1147-1149)
Em 1145, foi pregada uma nova cruzada
por Eugénio III e São Bernardo. A perda do Condado de Edessa provocou a
organização dessa cruzada. Desta vez foram reis que responderam ao apelo: Luís
VII da França e Conrado III do Sacro Império, para nomear os mais importantes.
Curiosamente, os contingentes flamengos e ingleses acabaram por conquistar
Lisboa e voltar para as suas terras na sua maioria, uma vez que eram concedidas
indulgências para quem combatia na Península Ibérica.
O exército de Conrado acabou esmagado
pelos turcos num momento de repouso. O que sobrou juntou-se aos franceses, com
o apoio dos templários. Com algumas dificuldades de transporte, mais uma vez
uma parte do exército teve de ser abandonada para trás (sobretudo os plebeus a
pé), e estes tiveram de abrir caminho contra os turcos.
Luís VII e Conrado em Jerusalém, depois
de algumas discussões, acabaram por ser convencidos a atacar Damasco, mas ao
fim de poucos dias tiveram que se retirar perante a ameaça de uma parte dos
nobres fazê-lo por conta própria. O resultado desta cruzada foi miserável (se
excetuarmos a conquista de Lisboa), tendo sucesso apenas em azedar as relações
entre os reinos cruzados, os bizantinos e os governantes muçulmanos amigáveis.
Nenhuma nova cruzada foi lançada até a um novo acontecimento: a conquista de
Jerusalém pelos muçulmanos em 1187. Os cristãos enfrentavam um adversário
decidido, Saladino.
A morte de Frederico Barbarossa, por
Gustave Doré (1832-1883)
Terceira Cruzada (1189-1192)
A
Terceira Cruzada, pregada pelo papa Gregório VIII após a tomada de Jerusalém
pelo sultão Saladino em 1187, foi denominada Cruzada dos Reis. É assim
denominada pela participação dos três principais soberanos europeus da época:
Filipe Augusto (França), Frederico Barba-Ruiva (Sacro Império Romano-Germânico)
e Ricardo Coração de Leão (Inglaterra).
O imperador Frederico Barba-Ruiva,
atendendo os apelos do papa, partiu com um contingente alemão de Ratisbona e
tomou o itinerário danubiano atravessando com sucesso a Ásia Menor, porém
afogou-se na Cilícia ao atravessar o Sélef (atual rio Göksu). A sua morte
representou o fim prático desse núcleo. Os reis de França e Inglaterra passaram
o tempo todo a querelar-se, até que aquele se retirou.
Se Ricardo Coração de Leão conseguiu
alguns actos notáveis (a conquista de Chipre, Acre, Jaffa e uma série de
vitórias contra efectivos superiores) também não teve pejo em massacrar prisioneiros
(incluindo mulheres e crianças). Com Saladino, teve um adversário à altura,
combatendo e travando um subtil táctico. Em 1192, acabou-se por chegar a um
acordo: os cristãos mantinham o que tinham conquistado e obtinham o direito de
peregrinação, desde que desarmados, a Jerusalém (que ficava em mãos
muçulmanas).
Se esse objectivo principal falhara,
alguns resultados tinham sido obtidos: Saladino vira a sua carreira de vitórias
iniciais entrar num certo impasse e o território de Outremer (o nome que era
dado aos reinos cruzados no oriente) sobrevivera.
Quarta Cruzada (1202-1204)
O doge Dandolo, de Veneza, pregando a
cruzada (Gustave Doré)
A Quarta Cruzada foi denominada também
de Cruzada Comercial, por ter sido desviada de seu intuito original pelo doge
(duque) Enrico Dandolo, de Veneza, que levou os cristãos a saquear Zara e
Constantinopla, onde foi fundado o Reino Latino de Constantinopla, fazendo com
que o abismo entre as igrejas Ocidental e Oriental se estabelecesse
definitivamente.
O papa Inocêncio III apelou a uma
cruzada em 1198 para conquistar Jerusalém (o objectivo falhado da Terceira
Cruzada), mas os preparativos começariam dois anos depois. Vários grandes
senhores trouxeram exércitos e estipularam um acordo com Veneza que
transportaria essas tropas na sua frota em troca de uma quantia. O problema é
que muitos dos senhores acabaram por não ir, e os que foram não tinham
condições para pagar o valor estipulado (que era fixo).
A entrada dos cruzados em
Constantinopla, Eugène Delacroix
Foi criado um novo acordo então: os
cruzados conquistariam Zara, uma cidade veneziana na Dalmácia que se revoltara,
em troca de um adiamento do pagamento. Entretanto chegaram notícias do Império
Bizantino. O imperador Isaac II fora derrubado pelo seu irmão Aleixo III e fora
cegado. O filho de Isaac II, de nome Aleixo IV, conseguira fugir e apelara aos
cruzados para o ajudarem: em troca de o colocarem no trono prometia-lhes
dinheiro e os recursos do império para a conquista de Jerusalém. Ainda hoje os
historiadores discutem se as coisas se passaram assim ou se foi uma
justificação para o que se iria suceder.
Os cruzados aceitaram imediatamente uma
vez que isso parecia resolver os seus problemas. Partiram em 1202. O papa
considerou que se atacassem território cristão (nomeadamente Zara) ficariam
excomungados. A cidade foi conquistada e depois de deixarem passar o inverno
atacaram Constantinopla. A cidade resistiu, mas o imperador Aleixo III acabou
por fugir com o tesouro da cidade.
Depois da Quarta Cruzada: Império Latino,
Império de Niceia, Império de Trebizonda e o Despotado do Épiro. As fronteiras
são incertas.
Com novos impostos a ser lançados para
pagar as promessas feitas aos cruzados, rapidamente a população ficou à beira
da revolta. Aleixo V, um parente afastado fez um golpe matando Aleixo IV e
colocando novamente na prisão Isaac II que fora libertado pelos cruzados e
governara com o filho.
Os cruzados decidiram então conquistar
em proveito próprio o império, nomear um imperador latino e dividir os
territórios. Aleixo fugiu com algum tesouro e a cidade foi saqueada pelos
latinos durante três dias. Estátuas, mosaicos, relíquias, riquezas acumuladas
durante quase um milénio foram pilhadas ou destruídas durante os incêndios. A
cidade sofreu um golpe tão terrível que nunca mais conseguiu se recompor, mesmo
depois de voltar a ser grega em 1261. E assim terminou a Quarta Cruzada, pois
ninguém pensou mais em dirigir-se para Jerusalém: a maioria regressou com o que
roubara, alguns ficaram com feudos no oriente.
Cruzada Albigense
Geralmente é aceito pela maioria dos
estudiosos que o catarismo surgiu em meados de 1143, quando surgiram os
primeiros relatos de um grupo defendendo crenças similares em Colónia pela
clérigo Eberwin de Steinfeld,[nota 1] o catarismo acreditava no dualismo,
professando a existência de um deus do Bem e outro do Mal, Cristo seria o deus
do bem enviado para salvar as almas humanas, após a morte as almas boas iriam
para o céu, enquanto as más iriam praticar metempsicose.[4] Os cátaros eram
especialmente numerosos em Occitânia (sul da atual França),[5] e sua liderança
era protegida por nobres poderosos,[6] e também por alguns bispos, que se
ressentiam da autoridade papal em suas dioceses. Em 1178, Henri de Marcy,
legado do papa, qualificou as populações de implantação cátara com a alcunha em
latim de sedes Satanae, sedes de Satã.
Quando as tentativas diplomáticas do
papa Inocêncio III para reverter o catarismo falharam[8] , mais
proeminentemente o suposto assassinato do legado papal Pierre de Castelnau, Inocêncio
III declarou uma cruzada contra o Languedoc em 1208. A Inquisição foi criada em
1229 para erradicar os cátaros remanescentes, operando no sul de Toulouse,
Albi, Carcassonne e outras cidades durante todo o século XIII, e uma grande
parte do século XIV. Os cátaros serão novamente perseguidos nas inquisições
espanholas e portuguesa.
Cruzada das Crianças (1212)
A Cruzada das Crianças, por Gustave
Doré (1832-1883)
A Cruzada das Crianças, é um misto de
fantasia e fatos. A lenda baseia-se em duas movimentações separadas com origem
na França e na Alemanha, no ano de 1212. Esta cruzada teria ocorrido entre a
Terceira e a Quarta Cruzada e seria um movimento extraoficial, baseado na
crença que apenas as almas puras (no caso as crianças) poderiam libertar Jerusalém.
A ideia teria surgido após a notícia de que Constantinopla, uma cidade cristã,
tinha sido saqueada pelos cruzados, fazendo cristãos crerem que não se poderia
confiar em adultos.
50 mil crianças teriam sido colocadas
em navios, saindo do porto de Marselha (França) rumo a Jerusalém. O resultado
foi um desastre, pois a maioria das crianças morreu no caminho, de fome ou de
frio. As que sobreviveram foram vendidas como escravas pelos turcos no Norte da
África. Alguns chegaram somente até a Itália, outros se dispersaram, e houve
aqueles que foram sequestrados e escravizados pelos muçulmanos.
Quinta Cruzada (1217-1221)
Também pregada por Inocêncio III,
partiu em 1217 e foi liderada por André II, rei da Hungria, e por Leopoldo VI,
duque da Áustria. Decidiu-se que para se conquistar Jerusalém era necessário
conquistar o Egito primeiro, uma vez que este controlava esse território.
Desembarcados em São João D'Acre,
decidiram atacar Damietta, cidade que servia de acesso ao Cairo, a capital.
Depois de conquistar uma pequena fortaleza de acesso aguardaram reforços e se
colocaram a caminho. Depois de alguns combates, e quando tudo parecia perdido,
uma série de crises na liderança egípcia permitiram aos cruzados ocupar o campo
inimigo. O sultão acabou por oferecer o reino de Jerusalém e uma enorme quantia
se os cristãos retirassem; o cardeal Pelágio, que se tornara num dos chefes da
expedição, acabou por convencer os restantes a recusar.
Começaram a cercar Damietta e depois de
algumas batalhas sofreram uma derrota. O sultão renovou a proposta, mas foi
novamente recusada. Depois de um longo cerco, que durou de fevereiro a
novembro, a cidade caiu. Os conflitos entre os cruzados agudizaram-se e
perdeu-se tanto tempo que os egípcios recuperaram forças. Reforços até 1221
chegaram aos cristãos. Lançaram-se numa ofensiva, mas os muçulmanos foram
retirando-se e levaram os cruzados a uma armadilha; sem comida e cercados
acabaram por ter de chegar a um acordo: retiravam-se do Egito e tinham suas
vidas salvas.
Sexta Cruzada (1228-1229)
Foi liderada pelo imperador do Sacro
Império Frederico II de Hohenstauffen, que tinha sido excomungado pelo papa.
Ele partiu com um exército que foi diminuindo com as deserções, e uma
semi-hostilidade das forças cristãs locais devido à sua excomunhão. Aproveitando-se
das discórdias entre os muçulmanos, Frederico II conseguiu, por intermédio da
diplomacia, um tratado com o sultão aiúbida al-Kamil que lhe concedia a posse
de Jerusalém, Belém e Nazaré por dez anos. Mas a derrota dos cristãos em Gaza
fê-los perder os Santos Lugares em 1244.
Sétima Cruzada (1248-1254)
Dirham cunhado por cristãos com
legendas em árabe entre 1216-1241.
Foi liderada pelo rei da França Luís
IX, posteriormente canonizado como São Luís. Ele desembarcou diretamente no
Egito e, depois de alguns combates, conquistou Damietta. Novamente o sultão
ofereceu Jerusalém e novamente foi recusado. Em Mansurá, depois de quase terem
vencido, os cruzados são derrotados pela imprudência do irmão do rei, Roberto
de Artois. Depois de uma retirada desastrosa, o exército rendeu-se. Luís IX
caiu prisioneiro e os cristãos tiveram de pagar um pesado resgate pela sua
libertação. Somente a resistência da rainha francesa em Damietta permitiu que
se conseguisse negociar com os egípcios. Luís ficou mais algum tempo e
conseguiu salvar o território de Outremer (indiretamente, as invasões mongóis
deram o seu contributo).
Oitava Cruzada (1270)
Os egípcios da dinastia mameluca
em 1265, tomaram Cesareia, Haifa e
Arsuf;
em 1266, ocuparam a Galileia e parte da
Armênia
em 1268, conquistaram Antioquia.
O Oriente Médio vivia uma época de
anarquia entre as ordens religiosas que deveriam defendê-lo, bem como entre
comerciantes genoveses e venezianos.
O rei francês Luís IX retomou então o
espírito das cruzadas e lançou novo empreendimento armado, a Oitava Cruzada, em
1270, embora sem grande percussão na Europa. Os objetivos eram agora diferentes
dos projetos anteriores: geograficamente, o teatro de operações não era o
Levante mas antes Túnis, e o propósito, mais que militar, era a conversão do
emir da mesma cidade norte-africana.
Luís IX partiu inicialmente para o
Egito, que estava sendo devastado pelo sultão Baibars. Dirigiu-se depois para
Túnis, na esperança de converter o emir da cidade e o sultão ao cristianismo. O
sultão Maomé recebeu-o de armas nas mãos. A expedição de São Luís redundou como
quase todas as outras expedições, numa tragédia. Não chegaram sequer a ter
oportunidade de combater: mal desembarcaram as forças francesas em Túnis, logo
foram acometidas por uma peste que assolava a região, ceifando inúmeras vidas
entre os cristãos, nomeadamente São Luís e um dos seus filhos. O outro filho do
rei, Filipe, o Audaz, ainda em 1270, firmou um tratado de paz com o sultão e
voltou à Europa. Chegou a Paris em maio de 1271 e foi coroado rei, em Reims, em
agosto do mesmo ano.
Nona Cruzada (1271-1272)
A Nona Cruzada é, muitas vezes,
considerada como parte da Oitava.
Em 1268, Baibars, sultão mameluco de
Egito, havia reduzido o Reino Latino de Jerusalém, o mais importante Estado cristão
estabelecido pelos cruzados, a uma pequena faixa de terra entre Sídon e Acre.
Alguns meses após a morte de Luís IX,
na Oitava Cruzada, o príncipe Eduardo da Inglaterra, depois Eduardo I, comandou
os seus seguidores até Acre. Em 1271 e inícios de 1272, conseguiu combater
Baibars, após firmar alianças com alguns governantes da região adversários
dele. Em 1272, estabeleceu contatos para firmar uma trégua, mas Baibars tentou
assassiná-lo, enviando homens que fingiram buscar o batismo como cristãos. Eduardo,
então, começou preparativos para atacar Jerusalém, quando chegaram notícias da
morte de seu pai, Henrique III. Eduardo, como herdeiro ao trono, decidiu
retornar à Inglaterra e assinou um tratado com Baibars, que possibilitou seu
retorno e, assim, terminou a Nona Cruzada.
Acontecimentos posteriores
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questionada, conforme razões apontadas na página de discussão.
Justifique o uso dessa marca na página
de discussão e tente torná-lo mais imparcial.
O equilíbrio na região permaneceu
frágil. Os anos seguintes viram um aumento das demandas dos Mamelucos, como
também aumentaram as perseguições aos peregrinos, contrariando os termos da
trégua. Em 1289, o sultão mameluco Qalawun juntou um grande exército, investiu
sobre o que restava do Condado de Trípoli, e, finalmente, cercou a capital,
Trípoli, e tomou-a depois de um sangrento assalto. O ataque, porém, foi
particularmente devastador para os Mamelucos, porque a resistência cristã
alcançou proporções fanáticas e Qalawun perdeu seu filho primogênito e mais
capaz na campanha. Ele esperou outros dois anos para recuperar sua força.
Em 1291, um grupo de peregrinos de Acre
foi atacado e, em represália, mataram dezenove comerciantes muçulmanos em uma
caravana síria. (Outra versão diz que um grupo de soldados italianos católicos
degolaram os islâmicos e eliminaram na mesma leva outro tanto de sírios
cristãos.) Qalawun exigiu que eles pagassem uma quantia extraordinária em
compensação. Quando nenhuma resposta veio, o Sultão usou isto como um pretexto
para sitiar Acre, e acabar com o último estado Cruzado independente na Terra
Santa.
Em abril de 1291, a cidade acordou
cercada por milhares de soldados muçulmanos. A cristandade correu em socorro de
um de seus pontos mais estratégicos na Terra Santa. Cavaleiros hospitalários,
teutônicos e templários, somados a tropas inglesas e italianas, partiram para
defender o porto de Acre. Em 18 de maio de 1291, as forças turcas e egípcias
tomaram a cidade de Acre. Qalawun morreu durante o ataque, deixando Khalil como
Sultão Mameluco. Com Acre tomada, os Estados Cruzados deixaram de existir. Caía
assim o último bastião dos europeus na Palestina.
Rapidamente, os poucos territórios
estabelecidos pelos cruzados que restavam no Oriente Médio foram reconquistados
pelos muçulmanos. Inicialmente, o centro do poder dos Cruzados foi movido para
o norte (para Tortosa), e finalmente para a ilha de Chipre. Sua última posição
segura na Terra Santa, a ilha de Rodes, foi perdida em 1302-1303. O período dos
Cruzadas na Terra Santa estava terminado, quase duzentos anos depois do papa
Urbano II iniciar sua pregação.
Causas do fracasso
Diversas razões contribuíram para o
fracasso das Cruzadas, entre elas: os europeus eram minoria, em meio a uma
população geralmente hostil; a opressão à população nativa fez com que o
domínio fosse cada vez mais difícil; as diversas lutas entre os próprios
cristãos contribuíram para enfraquecê-los enormemente. Todas, exceto a pacífica
sexta Cruzada (1228-1229), foram prejudicadas pela cobiça e brutalidade; judeus
e cristãos na Europa foram massacrados por turbas armadas em seu caminho para a
Terra Santa. O papado era incapaz de controlar as imensas forças à sua
disposição.
O legado das cruzadas
As cruzadas influenciaram a cavalaria
europeia e, durante séculos, sua literatura.
Se por um lado aprofundaram a
hostilidade entre o cristianismo e o Islã, por outro estimularam os contatos
econômicos e culturais para benefício permanente da civilização europeia. O
comércio entre a Europa e a Ásia Menor aumentou consideravelmente e a Europa
conheceu novos produtos, em especial, o açúcar e o algodão. Os contatos
culturais que se estabeleceram entre a Europa e o Oriente tiveram um efeito
estimulante no conhecimento ocidental e, até certo ponto, prepararam o caminho
para o Renascimento.
A jihad
No início do século XII, o mundo
muçulmano tinha praticamente esquecido a Jihad, a guerra religiosa travada
contra os inimigos do Islão. A explosiva expansão da sua religião durante o
século VIII tinha-se reduzido às memórias de grandeza dessa época. Após a queda
de Jerusalém, muitos proeminentes líderes religiosos, como o qadi Abu Sa’ ad
al-Harawi, tentaram convencer o califa abássida a preparar a Jihad contra os
firanji (de francos, que era como os muçulmanos se referiam aos europeus). No
entanto, somente perto de duas décadas depois é que o sultão turco designou um
proeminente militar, um atabeg chamado Zengi, para resolver o problema firanj.
Inimigos dos Cruzados, por Gustave Doré
Após a primeira cruzada, a moral dos
muçulmanos estava de rastos. Os firanj detinham uma reputação de ferocidade
entre os turcos e os árabes. Com os espectaculares sucessos em Antioquia e
Jerusalém, os firanj pareciam quase imparáveis. Eles humilhavam o poderoso
califado egípcio anualmente e faziam investidas em terras inimigas impunemente.
Exceptuando os vassalos do Egito, a maioria dos aterrorizados líderes
muçulmanos dos territórios mais próximos pagavam um pesado tributo para
assegurar a paz. Zengi iniciou o longo e lento processo de modificar a imagem
que os muçulmanos tinham dos firanj.
Tendo recebido o domínio das terras à
volta de Mossul e Alepo, Zengi começou uma campanha contra os firanj em 1132
com a ajuda do seu lugar-tenente Sawar. Em cinco anos, conseguiu reduzir o
número dos castelos importantes ao longo da fronteira do Condado de Edessa e
derrotou o exército firanj em batalha. Em 1144, capturou a cidade de Edessa e
neutralizou de forma efectiva o primeiro domínio estabelecido pelos Cruzados.
Zengi foi o primeiro líder muçulmano a
enfrentar os firanj e que não só sobreviveu, como triunfou. Ele provou que os
firanj podiam ser bloqueados. Os líderes de Bagdad aprovaram os sucessos de
Zengi, e cedo um grande número de títulos precediam o seu nome: O Emir, o
General, o Grande, o Justo, o Ajudante de Deus, o Triunfante, o Único, o Pilar
da Religião, a Pedra de Base do Islão, …Honra de Reis, Apoiante de Sultões … o
Sol dos Merecedores, … Protector do Príncipe dos Fiéis. Zengi gostou tanto da
enchente de elogios, que insistiu que os seus arautos e escrivães utilizassem
todos os títulos na sua correspondência.
Embora Zengi fosse um grande herói
militar, ele foi simplesmente muito implacável e cruel nas suas campanhas
contra Damasco para motivar os muçulmanos para uma guerra religiosa. Uma noite
do ano 1146, encontrando-se ele alcoolizado, ao ter presenciado a um erro do
seu eunuco particular, Lulu (pérola), e prometeu mandá-lo executar por
incompetência. Mais tarde, enquanto Zengi dormia, Lulu pegou na adaga do seu
dono e apunhalou-o repetidamente e fugiu, coberto pela escuridão da noite.
O herdeiro de Zengi, Nur al-Din, e o
seu sucessor Salah al-Din (Saladino), eram extremamente piedosos, observando
rigidamente a Sunna e os Pilares do Islão na sua vida pública e particular.
Ambos rodearam-se de religiosos e teólogos e sábios em geral. Para além disso
fizeram uma activa campanha para espalhar o fervor religioso e propaganda entre
os seus súbditos muçulmanos. Com os seus exemplos de religiosidade, Nur al-Din
iniciou – e o seu sucessor Salah al-Din cultivou – uma guerra religiosa, uma
jihad, contra os Firanj. Enquanto que Zengi apenas podia contar com os seus
soldados, o apelo à jihad atraiu os soldados muçulmanos de toda a Arábia, Egito
e Pérsia. Este massivo exército permitiu Salah al-Din esmagar os firanj na
Batalha de Hattin e enfraquecer as forças da Terceira Cruzada de Ricardo
Coração de Leão.
A chama da Jihad de Salah al-Din deixou
de arder em 1193, quando morreu. O irmão do sultão, Saphadin, não pretendia
entrar em mais guerras, e quando Ricardo Coração de Leão foi para a Europa, o
poderio militar dos firanj estava praticamente neutralizado e não mais
necessidade de derramamento de sangue. A partir desta altura Saphadim
acreditava que a coexistência pacífica com Firanj ainda era possível. Várias
décadas mais tarde, uma jihad iria finalmente purgar os firanj da Síria e
Palestina, embora até 1291, os muçulmanos ainda partilhassem uma pequena parte
desse território com os firanj.
As cruzadas na reconquista de Portugal
Quando surgiu o reino de Portugal, a
cristandade agitava-se no fervor das Cruzadas do Oriente. Os portos de Galiza,
que davam acesso a Santiago de Compostela, a barra do rio Douro e a vasta baía
de Lisboa, eram pontos de escala das frotas de cruzados que do Norte da Europa
seguiam para a Terra Santa. Quando, em 1140, Afonso I tentou a conquista de
Lisboa, fê-lo com o auxílio de estrangeiros: setenta navios franceses que
tinham entrado a barra do Douro e aportado a Gaia. Mas a conquista não foi
possível devido às poderosas defesas que rodeavam Lisboa.
Em 1147, entra na barra do Douro, vinda
de Dartmouth, uma frota de 200 velas, transportando cruzados de várias nações:
alemães, flamengos, normandos e ingleses num total de 13 000 homens.
Aproveitando este facto, Afonso I escreveu ao bispo do Porto D. Pedro,
pedindo-lhe que persuadisse os cruzados a ajudarem-no na empresa,
prometendo-lhes o saque da cidade. No dia seguinte desembarcaram os cruzados em
Lisboa, que tiveram as últimas negociações com D. Afonso, firmando o pacto.
Depois da tomada da cidade, muitos cruzados ficaram por lá. Um capitão de
cruzados, Jourdan, foi senhor e parece que o primeiro povoador da Lourinhã. Ao
francês Allardo foi doada Vila Verde dos Francos, no distrito de Lisboa e
concelho de Alenquer (perto da Serra do Montejunto).
Alguns anos depois, em 1152, partiu de
Bergen uma esquadra de peregrinos do Norte da Europa, comandados por Rognvaldo
III, rei das Órcades, com 15 navios e 2 000 homens. No inverno do ano seguinte,
esta esquadra estava nas costas de Galiza onde pilhou algumas povoações. No
verão de 1154 desce a costa portuguesa e ajuda o monarca na conquista de
Alcácer do Sal. A empresa era rendosa, pois a cidade era o mais importante
porto do Sado, cercada de pinhais, cujas madeiras eram utilizadas na construção
de navios. A empresa falhou e o mesmo se deu anos mais tarde desta vez com a
ajuda da frota do conde da Flandres composta de franceses e flamengos, e partiu
para a Síria em 1157, aportando à barra do Tejo.
Em 1189, D. Sancho I entra em
negociações com outra esquadra, que acabou por entrar na baía de Lagos e
ocuparam o Castelo de Albur (Alvor), um dos mais fortes da região. Meses depois
entra no Tejo outra frota alemã que tocara em Dartmouth recebendo muitos
peregrinos e que ajudou a conquistar Silves. Capital de província, populosa,
grande centro de comércio e de cultura, a cidade estava bem fortificada. A
notícia destas vitórias chegou ao Norte de África e a resposta não se fez
esperar.
Os mouros põem cerco a Silves, que não
conseguiram tomar, partindo o califa em direcção a Santarém, tomando Torres
Novas no caminho e pondo o cerco a Tomar. Perante esta situação, D. Sancho I
pediu auxílio aos cruzados vassalos de Ricardo Coração de Leão, que se tinham
reunido no Tejo, e foram ter a Santarém, que não chegou a ser atacada por causa
da peste que vitimou a maior parte dos mouros.
No ano seguinte, os mouros regressam
reconquistando Silves, a província de Alcácer, com excepção de Évora. Anos
depois outra armada de cruzados, mesmo sem terem chegado a acordo com D. Sancho
I, tomam Silves e saqueiam a cidade, prosseguindo para a Síria. Em 1212, com a
derrota na Batalha de Navas de Tolosa, o reino mouro entra em decadência. Em
1217, entra nova frota alemã, e D. Soeiro, bispo de Lisboa, convenceu-os a
conquistar Alcácer do Sal, navegando a esquadra por Setúbal, com os seus 100
navios. Alcácer resistiu durante dois meses até capitular. No princípio do
Inverno regressa a frota ao Tejo, passando aí o resto do inverno.
( NOTAS WIKIPEDIA ).
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