Fenícia
Localização de Fenícia
Mapa da Fenícia e suas rotas comerciais
Continente Ásia, Europa e África
Região Médio Oriente, Norte
de África, Mediterrâneo
Capital Biblos (1 200–1 000 a.C.)
Tiro (1 000–333 a.C.)
Língua oficial fenício
Outros idiomas púnico
Religião cananeia
Governo Monarquia
Rei
• 1 000 a.C. Ahiram
• 969 a.C. Hirão
• 814 a.C. Pigmaleão
Período histórico Antiguidade
clássica
• 1200 a.C. Fundação
• ca. 1 000 a.C. Hairam funda Biblos
• 969 a.C. Hirão funda Tiro
• 814 a.C. Pigmaleão funda Cartago
• 539 a.C. Ciro conquista a Fenícia
População
• 1 200 a.C. est. 200 000
A Civilização Fenícia (em fenício: Knaˁn; em hebraico: כנען; transl.: Kna'an; em grego clássico: Φοινίκη; transl.: Phoiníkē; em latim: Phœnicia; em árabe: فينيقيا) foi uma civilização da Antiguidade cujo epicentro se localizava no
norte da antiga Canaã, ao longo das regiões litorâneas dos atuais Líbano, Síria
e norte de Israel. A civilização fenícia foi uma cultura comercial marítima empreendedora
que se espalhou por todo o mar Mediterrâneo durante o período que foi de 1 500
a.C. a 300 a.C. Os fenícios realizavam comércio através da galé, um veículo
movido a velas e remos, e são creditados como os inventores dos birremes.
Não se conhece com exatidão a que ponto os fenícios viam a si próprios
como uma única etnia; sua civilização estava organizada em cidades-estado, de
maneira semelhante à Grécia Antiga; cada uma destas constituía uma unidade
política independente, que frequentemente entravam em conflito e podiam dominar
umas as outras - embora também colaborassem através de ligas e alianças. Embora
as fronteiras antigas destas culturas antigas fossem incertas e inconstantes, a
cidade de Tiro parece ter marcado seu ponto mais meridional. Sarepta (atual
Sarafant), entre Sídon e Tiro, é a cidade mais extensivamente escavada pelos
arqueólogos em território fenício.
Os fenícios foram a primeira sociedade a fazer uso extenso, a nível
estatal, do alfabeto. O alfabeto fonético fenício é tido como o ancestral de
todos os alfabetos modernos, embora não representasse as vogais (que foram
adicionadas mais tarde pelos gregos). Os fenícios falavam o idioma fenício, que
pertence ao grupo canaanita da família linguística semita. Através do comércio
marítimo, os fenícios espalharam o uso do alfabeto até o Norte da África e
Europa, onde foi adotado pelos antigos gregos, que o passaram aos etruscos, que
por sua vez o repassaram aos romanos.[5] Além de suas diversas inscrições, os
fenícios deixaram diversos outros tipos de fontes escritas, porém poucas
sobreviveram até os dias de hoje. A Preparação Evangélica, de Eusébio de Cesareia,
faz citações extensas de Filo de Biblos e Sanconíaton.
2.1 Origens: 2 300-1 200 a.C.
2.1.1 Estudos genéticos
2.2 Apogeu: 1200–800 a.C.
2.3 Declínio: 539-65 a.C.
3 Comércio
4 Cultura
4.1 Língua e literatura
4.2 Arte
4.3 Religião
5 Influência na região do
Mediterrâneo
6 Na Bíblia
7 Hippoi
7.1 Ilustrações
8 Relações com os gregos
8.1 Comércio
8.2 Alfabeto
8.3 Ligações com a mitologia
grega
8.3.1 Cadmo
8.3.2 Deuses fenícios do mar
Etimologia
O termo fenício, por intermédio do latim poenicus (posteriormente
punicus), vem do grego antigo phoinikes, atestado desde Homero, e influenciado
por phoînix, "púrpura tíria", "carmesim"; "murex"
(que por sua vez vem de phoinos "vermelho cor de sangue"). O termo
foi atestado no Linear B como po-ni-ki-jo, de onde teria sido emprestado do
egípcio antigo Fenkhu (Fnkhw), "povo sírio". A associação entre
phoinikes e phoînix espelha uma antiga etimologia popular presente no fenício,
que associava Kina'ahu ("Canaã", "Fenícia") com kinahu
("carmesim"). A região era conhecida entre os nativos como Kina'ahu,
forma citada no século VI a.C. por Hecateu sob a forma (influenciada pelo
grego) de Khna (χνα), e seu povo como Kena'ani.
História
Origens: 2 300-1 200 a.C.
Sarcófago fenício encontrado em Cádis, Espanha, atualmente no Museu
Arqueológico de Cádis. Acredita-se que tenha sido encomendado e pago por um
mercador fenício, e construído na Grécia, com influência egípcia.
Em termos de arqueologia, língua e religião, pouco separa os fenícios das
outras culturas da região de Canaã. Como canaanitas, sua única diferença eram
seus notáveis feitos marítimos. Nas tabuletas de Amarna do século XIV a.C.,
chamam-se de Kenaani ou Kinaani ("canaanitas"), embora estas cartas
antecedam a invasão dos Povos do Mar em mais de um século. Bem mais tarde, no
século VI a.C., Hecateu de Mileto escreve que a Fenícia era chamada
anteriormente de χνα, um nome que Filo de Biblos
adotou posteriormente em sua mitologia como seu epônimo para os fenícios:
"Khna, que posteriormente foi chamado de Phoinix."[carece de fontes]
Já no terceiro milênio a.C. expedições marítimas eram feitas pelos egípcios
para trazer "cedros do Líbano".
O relato de Heródoto (escrito por volta de 440 a.C.) se refere aos mitos
de Io e Europa:
“ Os
persas mais esclarecidos atribuem aos fenícios a causa dessas inimizades. Dizem
eles que esse povo, tendo vindo do litoral da Eritreia para as costas do nosso
país, empreendeu longas viagens marítimas, logo depois de haver-se estabelecido
no país que ainda hoje habita, transportando mercadorias do Egito e da
Assíria... ”
Estudos genéticos
Spencer Wells, do Genographic Project, realizou estudos genéticos que
demonstraram que a população masculina do Líbano, Malta, Espanha, e outras
áreas colonizadas pelos fenícios, partilham o mesmo cromossomo-Y M89. As
populações masculinas que habitam as áreas associadas com a Civilização Minoica
e os Povos do Mar têm marcadores genéticos totalmente diferentes, o que indica
que não existia relação ancestral entre os fenícios e estes povos.
Em 2004, dois geneticistas da Universidade Harvard, importantes
cientistas do Projeto Genográfico da National Geographic, Pierre Zalloua e
Wells, identificaram "o haplogrupo dos fenícios" como sendo o
haplogrupo J2, deixando aberto o caminho para estudos futuros.[13] [14] A
população masculina da Tunísia e de Malta também foi incluída nestes estudos, e
mostrou partilhar "contundentes" semelhanças genéticas com os
libaneses. Em 2008 cientistas do Genographic Project anunciaram que "até
um em cada 17 homens vivendo atualmente no litoral do Norte da África e sul da
Europa pode ter um ancestral fenício direto em sua linhagem paterna."
Apogeu: 1200–800 a.C.
mapa da Fenícia
O historiador francês Fernand Braudel comentou em seu livro, A
Perspectiva do Mundo, que a Fenícia foi um dos primeiros exemplos de uma
"economia-mundial" cercada por impérios. O ponto alto da cultura
fenícia e de seu poder marítimo costuma ser datado como o período que vai de 1
200 a 800 a.C.
Diversos dos importantes centros urbanos fenícios, no entanto, teriam
sido fundados muito antes disso: Biblos, Tiro, Sídon, Simira, Arwad e Beirute
(Berytus) são citadas nas tabuletas de Amarna. A arqueologia identificou
elementos culturais do zênite fenício já no terceiro milênio a.C.
Uma liga formada por cidades-estado portuárias independentes, juntamente
com outras situadas em ilhas ou ao longo dos litorais do mar Mediterrâneo, era
muito apropriada para o comércio entre a região do Levante, rica em recursos
naturais, e o resto do mundo antigo. Durante o início da Idade do Ferro, por
volta de 1 200 a.C., um evento até agora desconhecido ocorreu, associado
historicamente com a chegada de um povo vindo do norte, conhecido pelo exônimo
de Povos do Mar. Estes povos enfraqueceram e destruíram as civilizações egípcia
e hitita, respectivamente; no vácuo de poder que se seguiu à sua chegada,
diversas cidades fenícias adquiriram importância como potências marítimas.
As sociedades fenícias estavam fundamentadas em três bases de poder: o
rei; o templo e seus sacerdotes; e o conselho de anciãos. Biblos foi a primeira
cidade a se tornar um centro predominante, a partir de onde os fenícios saíram
para dominar as rotas comerciais dos mares Mediterrâneo e Eritreu (Vermelho).
Foi nesta cidade que a primeira inscrição no alfabeto fenício foi encontrada,
no sarcófago de Ahiram (c. 1 200 a.C.). Posteriormente, Tiro tornou-se a cidade
mais poderosa; um de seus reis, o sacerdote Itobaal I (887-856 a.C.) estendeu
seu domínio sobre a Fenícia até a cidade de Beirute, e conquistou parte da ilha
de Chipre. Cartago foi fundada pelos fenícios; de acordo com Veleio Patérculo,
sua fundação ocorreu 65 anos antes da fundação de Roma, pela tíria Elissa,
chamada de Dido. O conjunto de cidades-reino que formavam a Fenícia passou a
ser conhecido por estrangeiros, e até mesmo pelos próprios fenícios, como
Sidônia (Sidonia) ou Tíria (Tyria); os fenícios e cananeus eram chamados de
sidônios ou tírios, à medida que uma cidade fenícia sucedeu a outra no poder.
Declínio: 539-65 a.C.
Ação naval ocorrida durante um cerco; desenho de André Castaigne,
1888-1889.Ciro, o Grande, rei da Pérsia, conquistou a Fenícia em 539 a.C. Os
persas dividiram a Fenícia em quatro reinos vassalos: Sídon, Tiro, Arwad, e
Biblos. Estes reinos prosperaram, e forneceram frotas navais para os reis
persas. A influência fenícia, no entanto, passou a diminuir depois da
conquista; é provável que boa parte da população fenícia tenha migrado para
Cartago e outras colônias depois do domínio persa. Em 350 e 345 a.C. uma
rebelião em Sídon liderada por Tennes foi esmagada por Artaxerxes III; sua
destruição foi descrita por Diodoro Sículo.
Alexandre, o Grande conquistou Tiro em 332 a.C. após o Cerco de Tiro.
Alexandre foi excepcionalmente cruel com a cidade, executando 2000 de seus
principais cidadãos, embora tenha mantido o rei no poder. Em seguida tomou
posse das outras cidades de maneira pacífica; o soberano de Árados submeteu, e
o rei de Sídon foi deposto. A ascensão da Grécia helenística gradualmente tomou
o lugar dos resquícios do antigo domínio fenício sobre as rotas comerciais do
leste do Mediterrâneo. A cultura fenícia acabou por desaparecer totalmente em
sua pátria de origem, embora Cartago tenha continuado a florescer no Norte da
África, controlando a mineração de ferro e metais preciosos na Ibéria, e
utilizando seu poder naval considerável e seus exércitos de mercenários para proteger
seus interesses comerciais, até a eventual destruição pelas tropas romanas em
146 a.C., no fim das Guerras Púnicas.
Depois de Alexandre, a pátria fenícia foi controlada por uma sucessão de
soberanos helenísticos: Laomedonte (323 a.C.), Ptolemeu I (320 a.C.), Antígono
II (315 a.C.), Demétrio (301 a.C.), e Seleuco (296 a.C.). Entre 286-197 a.C., a
Fenícia (com a exceção de Árados) foi dominada pelos Ptolemeus do Egito, que
instauraram os sumos-sacerdotes da deusa Astarte (Eshmunazar I, Tabnit, Eshmunazar
II) como soberanos vassalos de Sídon.
Em 197 a.C. a Fenícia, juntamente com a Síria, voltou para a mão dos
Selêucidas. A região ficou cada vez mais helenizada, embora Tiro tenha se
tornado autônoma em 126 a.C., seguida por Sídon em 111 a.C. Toda a Síria,
incluindo a Fenícia, foi capturada pelo rei Tigranes, o Grande, da Armênia, de
82 a 69 a.C., quando o monarca foi derrotado pelo general romano Lúculo. Em 65
a.C. Pompeu, o Grande finalmente incorporou o território à província romana da
Síria.
Comércio
Moeda fenícia retratando um navio de guerra e um hipocampo.
Os fenícios foram alguns dos maiores comerciantes de seu tempo, e deviam
muito de sua prosperidade ao comércio. Inicialmente mantinham relações
comerciais apenas com os gregos, vendendo madeira, escravos, vidro e a púrpura
de Tiro em pó. Esta célebre tinta de forte cor púrpura era muito usada pela
elite grega para colorir suas vestes; o termo fenício vem do grego antigo
phoínios, que significa "púrpura". À medida que o comércio e o
processo de colonização se espalhou sobre o Mediterrâneo, os fenícios e gregos
parecem ter, de maneira inconsciente, dividido aquele mar em duas partes; os
fenícios navegavam pela (e eventualmente dominaram) parte meridional do mar,
enquanto os gregos mantinham suas atividades nas costas setentrionais. As duas
culturas se confrontaram muito esporadicamente, como na Sicília, que
eventualmente foi repartida em duas esferas de influência, a fenícia no
sudoeste e a grega no nordeste da ilha.
Prato fenício com engobo vermelho, século VII a.C., escavado na ilha de
Mogador, Essaouira, Marrocos.
1 200 a.C., os fenícios foram por séculos a principal potência naval e
mercantil da região. O comércio fenício foi fundado com base na tinta conhecida
como púrpura tíria, uma tinta de um púrpura profundo, derivado da concha do
molusco gastrópode Murex, que anteriormente era encontrado com abundância nas
águas costeiras do leste do Mediterrâneo, e que acabou sendo extinta. As
escavações de James B. Pritchard em Sarepta, no Líbano atual, mostraram conchas
esmagadas do molusco, e recipientes de cerâmica manchados com a tinta produzida
no local. Os fenícios fundaram um segundo centro de produção da tinta em
Mogador, no atual Marrocos. Produtos têxteis de cores brilhantes eram símbolos
característicos de riqueza na sociedade fenícia, bem como o vidro, outro importante
item de exportação. Os fenícios também trouxeram para a região do Mediterrâneo
cães de origem africana e asiática, que acabaram por dar origem a diversas
raças locais. O Egito, onde as vinhas não podiam ser cultivadas devido ao
clima, comprava vinho dos fenícios do século VIII a.C.; este comércio está
documentado de maneira destacada nos navios naufragados descobertos em 1997 no
alto-mar, a 30 milhas a oeste de Ascalão.[18] Fornos de cerâmica em Tiro e
Sarepta produziam as grandes jarras de terracota usadas para o transporte do
vinho; o Egito pagava com ouro vindo da Núbia.
De outros lugares obtinham diferentes materiais, dos quais talvez os mais
importantes sejam a prata, obtida da península Ibérica, e o estanho, da
Grã-Bretanha (este último era fundido com o cobre (do Chipre), criando uma liga
metálica mais durável, o bronze. Estrabão afirma que existia um comércio
altamente lucrativo entre a Fenícia e a Britânia.
Os fenícios estabeleceram entrepostos comerciais ao longo do
Mediterrâneo, dos quais o mais importante, estrategicamente, era Cartago, no
Norte da África. Antigas mitologias gaélicas mencionam um influxo de
fenícios/citas à Irlanda, liderados por Fênio Farsa. Outros fenícios também
navegaram para o sul, ao longo da costa africana; uma expedição cartaginesa
liderada por Hanão, o Navegador, explorou e colonizou o litoral atlântico da
África até o golfo da Guiné, e, de acordo com Heródoto, uma expedição fenícia
enviada para o mar Vermelho pelo faraó Necho II do Egito, por volta de 600
a.C., chegou até mesmo a circum-navegar o continente e retornar, passando pelos
Pilares de Hércules (o estreito de Gibraltar) três anos depois. Em alusão a
este périplo, nos anos 350 a.C. os cartagineses cunharam moedas em ouro com uma
imagem no reverso que muitos julgam representar o mar mediterrâneo e a oeste o
continente americano. .
Cultura
Língua e literatura
Ver artigos principais: Língua fenícia, Literatura fenício-púnica e
Alfabeto fenício
Formado por 22 letras o alfabeto fenício foi um dos primeiros alfabetos a
ter uma forma rígida e consistente. Presume-se que seus caracteres lineares
simplificados se originaram a partir de um alfabeto semítico pictórico ainda
não atestado, que teria sido desenvolvido alguns séculos antes no sul do
Levante. O precursor do alfabeto fenício
provavelmente tinha origem egípcia, como os alfabetos da Idade do Bronze Média
do sul do Levante lembram os hieróglifos egípcios ou, mais especificamente, um
sistema alfabético de escrita encontrado em Wadi-el-Hol, no Egito central. Além
de ter sido antecedido pelo proto-canaanita, o alfabeto fenício também teve
como antecessor uma escrita alfabética de origem mesopotâmica chamada
ugarítica. O desenvolvimento do alfabeto fenício a partir do proto-canaanita
coincidiu com o início da Idade do Ferro, no século XI a.C.
O alfabeto foi descrito como um abjad, uma escrita que não representa as
vogais. As primeiras duas letras, aleph e beth deram o seu nome.
Sarcófago de Ahiram, no Museu Nacional de Beirute.
A representação mais antiga conhecida do alfabeto fenício foi a inscrição
do sarcófago do rei Ahiram, de Biblos, que data no máximo do século XI a.C.
Inscrições fenícias foram encontradas no Líbano, Síria, Israel, Chipre e
diversas outras localidades até os primeiros séculos da Era Cristã. Os fenícios
foram responsáveis por espalhar o uso de seu alfabeto por todo o mundo
mediterrâneo. Comerciantes fenícios levaram este sistema de escrita ao longo
das rotas comerciais do mar Egeu, chegando a Creta e à Grécia; os gregos
adotaram a maior parte das letras, alterando, no entanto, algumas delas para
vogais, dando origem ao primeiro alfabeto real.
O idioma fenício está classificado no subgrupo canaanita do ramo noroeste
da família linguística semita. Seu descendente posterior no Norte da África é
conhecido como púnico. Nas colônias fenícias ao redor do Mediterrâneo
ocidental, a partir do século IX a.C., o fenício foi definitivamente suplantado
pelo púnico, variante que continuava a ser falada no século V d.C.; Santo
Agostinho, por exemplo, cresceu no Norte da África e o idioma lhe era familiar.
Arte
A arte fenícia não tem as características exclusivas que a distinguem de
seus contemporâneos; isto se deve por ter sido altamente influenciada por
culturas artísticas estrangeiras, principalmente o Egito, Grécia e Assíria. Os
fenícios que estudavam às margens do Nilo e do Eufrates conquistavam uma ampla
experiência artística, e acabavam por desenvolver sua própria arte na forma de
um amálgama de modelos e perspectivas internacionais. Em artigo do New York
Times publicado em 5 de janeiro de 1879, a arte fenícia foi descrita da
seguinte maneira:
"Ela entrava nos trabalhos dos outros homens e aproveitava ao máximo
sua herança. A Esfinge do Egito se tornou asiática, e sua nova forma foi
transplantada para Nínive, por um lado, e para a Grécia, no outro. As rosetas e
outros padrões dos cilindros babilônios foram introduzidos ao artesanato
fenício, e passados desta maneira para o Ocidente, enquanto o herói do antigo
épico caldeu primeiro se tornou o Melcarte tírio, e, posteriormente, o
Héracles, da Hélade."
Religião
Os fenícios eram politeístas, e cultuaram diferentes divindades, muitas
oriundas de culturas vizinhas, ao longo de sua história. As evidências do
segundo milênio a.C. estão Adônis, Amon, Astarte, Baal Safon, Baalat Gebal
("Senhora de Biblos"), Baal Shemen (consorte de Baalat Gebal), El,
Eshmun, Hail, Ísis, Melcarte, Osíris, Shed, o venerável Reshef (Reshef da
Flecha), YHWY e Gebory-Kon. Já no milênio seguinte foram registrados outros,
como Chusor, Dagon, Eshmun-Melcarte, Milkashtart, Reshef-Shed, Shed-Horon e
Tanit-Astarte.
Os fenícios conservavam ritos bem arcaicos, como a prostituição divina e
o sacrifício de crianças (em particular dos primogênitos) e de animais. A
maioria dos rituais religiosos eram feitos ao ar livre.
Influência na região do Mediterrâneo
Cadmo combatendo o dragão; lado de uma ânfora em figuras negras da
Eubeia, ca. 560–550 a.C., Louvre
A cultura fenícia teve um grande impacto sobre as culturas da bacia do
Mediterrâneo no início da Idade do Ferro, que por sua vez também os
influenciaram enormemente. Na Fenícia, por exemplo, a divisão tripartida entre
Baal, Mot e Yam parece ter sido influenciada pela divisão que havia na
mitologia grega entre Zeus, Hades e Posídon. Os templos fenícios dedicados a
Melcarte nos diversos portos mediterrâneos passaram a ser conhecidos, durante o
período clássico da história grega, como sagrados para Héracles. Histórias como
o Rapto de Europa e a chegada de Cadmo também apresentam influências fenícias.
A recuperação da economia mediterrânea, após o colapso ocorrido no fim da
Idade de Bronze, parece ser em grande parte obra dos comerciantes e
príncipes-mercadores fenícios, que restabeleceram o comércio de longa
distância, como o existente entre o Egito e a Mesopotâmia, durante o século X
a.C. A revolução jônia foi, pelo menos na história lendária, liderada por
filósofos como Tales de Mileto e Pitágoras, ambos filhos de pais fenícios.
Motivos fenícios também estão presentes no período orientalizante da arte
grega, e desempenharam um papel formativo na civilização etrusca, na região da
Toscana, da península Itálica.
Existem diversos países e cidades no mundo cujos nomes são derivados da
língua fenícia, como Altiburius, cidade da Argélia, a sudoeste de Cartago, que
vem do fenício "Iltabrush"; Bosa, na Sardenha, do fenício
"Bis'en"; Cádis, na Espanha, do fenício "Gadir"; Dhali
(Idalion), no centro da ilha de Chipre, do fenício "Idyal"; Érice
(Erice), na Sicília, do fenício "Eryx"; Malta, ilha no Mediterrâneo,
do fenício "Malat" ('refúgio'); Marion, cidade no Chipre ocidental,
do fenício "Aymar"; Oed Dekri, na Argélia, do fenício
"Idiqra"; e Espanha, do fenício "I-Shaphan" ('Terra dos
Híraces'), latinizado posteriromente como Hispania ("Hispânia").
Na Bíblia
O fenício Hirão, na Bíblia, foi associado com a construção do Templo de
Salomão:
“ II
Crônicas 2:14 — Filho de uma mulher das filhas de Dã, e cujo pai foi homem de
Tiro; este sabe trabalhar em ouro, em prata, em bronze, em ferro, em pedras e
em madeira, em púrpura, em azul, e em linho fino, e em carmezim, e é hábil para
toda a obra do buril, e para toda a espécie de invenções, qualquer coisa que se
lhe propuser...… ”
Hirão seria Hiram Abiff, arquiteto do Templo segundo a crença maçônica;
ambos teriam sido muito famosos por sua tinta púrpura.Posteriormente, profeta
Elias execrou Jezebel, princesa de Tiro que se tornou consorte do rei Acabe e
introduziu o culto de seus deuses, entre eles Baal.Muito depois da cultura
fenícia ter florescido, ou mesmo da existência da Fenícia como entidade
política, os canaanitas helenizados naturais da região ainda eram conhecidos
como "siro-fenícios", como no Evangelho de Marcos, 7:26: "E esta
mulher era grega, sirofenícia de nação…"
O termo Bíblia, que vem do grego antigo "biblion",
"livro", deu origem ao nome da cidade fenícia helenizada de Biblos,
que até então era chamada de Gebal. Os gregos deram-lhe este nome porque era de
lá que vinha o papiro egípcio (Bύβλος, byblos) que era importado pelas cidades da Grécia. A Biblos atual é
conhecida em árabe como Jbeil (جبيل, Ǧubayl), que vem de Gebal.
Hippoi
Os gregos tinham dois nomes para os navios fenícios: hippoi e galloi.
Galloi significa "banheiras" e hippoi, "cavalos". Os nomes
são facilmente compreensíveis através das ilustrações de navios fenícios nos
palácios dos reis assírios dos séculos VIII-VII a.C., onde os navios têm forma
de banheiras com cabeças de cavalos em suas extremidades. É possível que estes
hippoi estariam relacionados às ligações fenícias com o deus grego Posídon.
Ilustrações
As portas de Tel Balawat (850 a.C.) podem ser encontradas no palácio de
Salmanaser III, um rei assírio, próximas a Nimrud. São feitas de bronze, e
mostram navios chegando para prestar homenagens a Salmanaser.
O baixo-relevo de Khorsabad (século VII a.C.) mostra o transporte de
madeira (provavelmente cedro) do Líbano. Encontra-se no palácio construído
especificamente para Sargão I, outro rei assírio, em Khorsabad, no norte do
atual Iraque.
Relações com os gregos
Comércio
No fim da Idade do Bronze (por volta de 1 200 a.C.), havia intenso
comércio entre os canaanitas (ancestrais dos fenícios), egípcios, cipriotas e
gregos. Nos restos de um naufrágio ocorrido no litoral da Turquia (Ulu
Bulurun), cerâmica canaanita usada para o transporte de mercadoria foi
encontrada juntamente com objetos de cerâmica do Chipre e da Grécia. Os
fenícios eram célebres por suas habilidades ao trabalhar com o metal, e, ao fim
do século VIII a.C., as cidades-estado gregas mandavam enviados ao Levante para
obter mercadorias de metal.
O auge da atividade comercial fenícia se deu por volta dos séculos
VIII-VII a.C. Nesta altura ocorre uma dispersão das importações (cerâmica,
pedra e faiança) do Levante indicando um canal comercial fenício até a Grécia
continental, através do Egeu central.Em Atenas existem poucas evidências deste
comércio, com apenas algumas importações do Oriente, porém outras cidades
litorâneas gregas contém uma quantidade abundante destas mercadorias
originárias da região, evidenciando este comércio.
Al-Mina é um exemplo específico do comércio que era realizado entre os
gregos e fenícios. Já se levantou a hipótese de que, por volta do século VIII
a.C., comerciantes da Eubeia teriam estabelecido uma ligação comercial com a
costa levantina, utilizando-se de Al-Mina, na Síria, como base para este
empreendimento, embora ainda não se saiba até que ponto seriam reais estas
alegações. Os fenícios até mesmo obtiveram seu nome dos gregos, devido às suas
atividades comerciais; seu produto mais célebre era a tinta púrpura, conhecida
em grego como phoenos.
Alfabeto
O alfabeto fonético fenício foi adotado e modificado pelos gregos,
provavelmente por volta do século VIII a.C. (na mesma época das ilustrações dos
hippoi fenícios). Isto provavelmente não ocorreu de uma vez, mas sim ao fim de
um longo processo de intercâmbios comerciais. Possivelmente neste período
também tenha ocorrido igualmente a adaptação de algumas idéias religiosas.
Heródoto cita a cidade de Tebas, no centro da Grécia, como o local específico
onde esta importação do alfabeto teria ocorrido. O lendário herói fenício Cadmo
é quem leva o crédito por ter trazido o alfabeto à Grécia, porém é mais
plausível que tenha sido levado por migrantes fenícios para a ilha de
Creta,[39] de onde se expandiu gradualmente para o norte.
Ligações com a mitologia grega
Cadmo
Tanto na mitologia fenícia quanto na grega Cadmo é um príncipe fenício,
filho de Agenor, rei de Tiro. Heródoto atribui a Cadmo o mérito de levar o
alfabeto fenício à Grécia,[40] aproximadamente seiscentos anos antes da época
em que o próprio Heródoto viveu, ou seja, por volta de 1 000 a.C.
"Os fenícios que haviam acompanhado Cadmo e no número dos quais
figuravam os gefireus, introduziram na Grécia, durante sua permanência nesse
país, vários conhecimentos, entre eles os alfabetos que eram, na minha opinião,
até então desconhecidos no país. A princípio, os gregos fizeram uso dos
caracteres fenícios, mas, com o correr do tempo, as letras foram-se modificando
com a língua e tomaram outra forma."
Deuses fenícios do mar
Devido ao grande números de divindades que seguem o modelo de
"Senhor dos Mares" nas mitologias clássicas, é difícil atribuir um
nome específico à divindade marinha da religião fenícia. Esta figura
"Posídon-Netuno" é mencionada por autores e em diversas inscrições
como muito importante para mercadores e marinheiros,[43] porém o seu nome
específico ainda está por ser descoberto. Existem, no entanto, nomes
específicos usados para cada cidade-Estado, separadamente, a suas divindades
marinhas locais. O deus dos mares de Ugarit, por exemplo, era Yamm. Yamm e
Baal, o deus das tempestades da mitologia ugarítica, frequentemente associado a
Zeus, se enfrentam numa batalha épica pelo domínio do universo. Como Yamm é o
deus dos mares, ele representa o vasto caos. Baal, por outro lado, representa a
ordem. Na mitologia ugarítica, Baal derrota Yamm; em algumas versões do mito,
ele o mata com uma clava feita especialmente para ele, e, em outras, a deusa
Astarte (Athtart) salva Yamm e lhe ordena que fique em seus próprios domínios,
já que fora derrotado. Yamm é o irmão do deus da morte, Mot.
Alguns estudiosos identificaram Yamm com Posídon, embora ele também tenha
sido identificado com Ponto.fonte wikipedia
Nenhum comentário:
Postar um comentário